"Fonoaudiologia é uma arte que merece ser mais amplamente conhecida. Você não pode imaginar as acrobacias que sua língua mecanicamente executa para produzir todos os sons da linguagem”, Jean Dominique Bauby, foi Editor Chefe da Revista ELLE em Paris, após ter um AVE e precisar de tratamento fonoaudiológico.

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quarta-feira, 10 de julho de 2013

SaLuT! Beber VINHO faz bem pra AUDIÇÃO

Olha eu lá em Napa Valley... 
Hoje fui almoçar num restaurante que estampava na entrada uma reportagem com a seguinte manchete: "RESVERATROL PRESERVA A AUDIÇÃO". Fonoaudióloga que sou, e amante de vinho, tive que investigar a fundo esta história!

A reportagem dizia que o resveratrol - substância  presente na uva e, portanto, no vinho - inibe os radicais livres e uma enzima chamada COX-2, que podem causar prejuízos na capacidade de ouvir. A reportagem deixou claro que a substância só é encontrada no vinho tinto (que pena!) e que, para obter o benefício,é necessário ingerir uma quantia bem alta. 

O estudo foi realizado no Departamento de Otorrinolaringologia/ Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital Henry Ford, nos Estados Unidos. Ele mostra que ratinhos saudáveis, quando receberam o resveratrol antes da exposição ao ruído intenso e contínuo, estiveram menos propícios a sofrerem dos efeitos da Perda Auditiva Induzida por Ruído (PAIR). Os bichinhos tratados com resveratrol tiveram um índice de perda auditiva 50% menor. No experimento, o extrato de resveratrol foi transformado em cápsulas: 3 pílulas carregam o equivalente a 288 taças de vinho! 

É... se a gente tiver que beber tudo isso, eu diria que a gente vai morrer rápido, ouvindo bem e, quem sabe, muiiiiito feliz!

Para quem quiser conhecer o artigo original (eu achei! :-), ele foi publicado no jornal Otolaryngology - Head and Neck Surgery. Aqui vai o link   http://oto.sagepub.com/content/148/5/827.abstract

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Fiz um poema














RN de UTI
Patrícia Ribeiro, Maio 2013

Vida, vida, ida e vinda
Sabe lá quanto vai durar
Mas há de começar,
em algum lugar

Instinto, viver
Sinto muito, doer
É preciso crescer,
Pra sobreviver

Pequeninos tão fortes
Grandes enfraquecidos
Insensíveis fingidos
Uniformizados humanizados

Sonhos banais
respirar, alimentar, eliminar
um dia reais?

Confiar e questionar
perguntar e calar
Rezar e aceitar
tocar e não tocar
ajudar e esperar;
mas Não comparar

Ida, vinda
assim, assado
isso, aquilo
perdeu, ganhou

...tudo há de acabar
pra só começar...

Sem palavras...

Esse filme fala por si só. Deixo para reflexão.



sábado, 2 de março de 2013

Se for fazer "Teste da Orelhinha", que seja bem feito!

Microfonia Coclear: Não dá para confiar só na EOA! Mas que é lindo de se ver o funcionamento do corpo humano, isso é!

A gente já nasce e tem que "passar" em um monte de teste. Hoje em dia o recém-nascido (RN) passa por várias triagens, com o objetivo de verificar doenças, deficiências ou alterações que possam ser diagnosticadas e tratadas precocemente. Começou com o "Teste do Pezinho" e agora já temos o "da Orelhinha", "do Olhinho", "da Linguinha", "do Coraçãozinho"... Certamente, são avanços da medicina que vieram para promover o desenvolvimento biopsicosocial saudável da criança.

A regularização e, portanto, obrigatoriedade das triagens dos recém-nascidos nos hospitais públicos e privados demandou muitos estudos e discussões, com vistas a identificar a relevância e a viabilidade dos exames de triagem do RN. Pesquisadores, políticos e entidades de classe - por exemplo, as Sociedades Brasileiras de Fonoaudiologia, Otorrinolaringologia, Pediatria, Oftalmologia, Cardiologia - precisaram se unir para regulamentar os projetos de leis voltados à saúde da criança. Hoje, temos grandes conquistas, e me orgulho por poder participar da prática, das discussões, pesquisas e regulação do Programa de Triagem Auditiva Neonatal em Minas Gerais.

O que me preocupa, entretanto, são os hospitais e serviços que estão realizando a Triagem Auditiva Neonatal, o famoso "Teste da Orelhinha", sem os critérios clínicos estabelecidos, visando apenas cumprir a lei ou garantir mais uma forma de lucro. Na prática, vejo no Serviço de Diagnóstico Audiológico Infantil onde eu trabalho, onde recebemos para diagnóstico as crianças que falharam à triagem, que alguns profissionais estão despreparados para desempenhar essa importante tarefa. 

As diretrizes recomendadas pelo Joint Committee on Infant Hearing (JCIH) e Comitê Multiprofissional de Saúde Auditiva (COMUSA) devem ser criteriosamente seguidas. É importante invenstigar com propriedade a presença de Indicadores de Risco para a Perda Auditiva. Consanguinidade, Hiperbilirrubinemia com Transfusão Extrasanguíneo e Antecedentes Familiares com Perda Auditiva, por exemplo, são frequentemente despercebidos. A identificação de tais indicadores é muito importante, pois as crianças que os apresentam necessitam retornar para consultas de acompanhamento do desenvolvimento auditivo, mesmo quando apresentam resultados normais à TAN. Apesar da cóclea, órgão sensorial da audição, estar completamente desenvolvido desde a vida intra-uterina, a maturação das vias auditivas centrais inicia-se após o nascimento e completa-se por volta dos 18 meses de vida pós-natal. Por isso, é possível desenvolver alterações auditivas após o nascimento, que podem não ser inicialmente perceptíveis ao olhar dos pais.

Me preocupa, sobretudo, os serviços que estão realizando a TAN utilizando-se exclusivamente da pesquisa das Emissões Otoacústicas Evocadas (EOA). A observação de respostas comportamentais auditivas, especialmente a pesquisa do Reflexo Cócleo-Palpebral (RCP) é de suma relevância e é diretriz definida pela COMUSA. Atenção, mamães!!! Ao acompanhar seus nenéns ao Teste da Orelhinha, observe ou pergunte sobre o "barulho que faz o neném piscar"! Outro dia, recebemos no nosso serviço, uma criança que passou no Teste da Orelhinha, realizado exclusivamente com a pesquisa das EOA. Os pais, que já tinham uma outra criança com deficiência auditiva, atentaram-se ao comportamento auditivo atípico da criança e nos procuraram mesmo com os resultados "normais" à TAN. Após uma série de exames - EOA Transientes presentes, RCP ausente, Respostas Comportamentais Auditivas Inadequadas para Sino, Ausência de formação de ondas I, III e V ao PEATE com presença de Microfonia Coclear - identificamos nela a presença do que chamamos de Neuropatia, ou seja, uma Perda Auditiva Central. Dentre as perdas auditivas, o prognóstico é um dos mais reservados. É preciso tratamento intenso para estimular a oralidade por leitura orofacial. Em alguns casos, o Implante Coclear também pode ser uma alternativa terapêutica.

A história me comoveu; fico triste em saber que, se o RCP tivesse sido pesquisado, o diagnóstico poderia ter sido fechado mais precocemente. Por isso, faço este apelo aqui no blog: 

Se for fazer Teste da Orelhinha, que seja bem feito!

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Trabalhando e Aprendendo... lições além das referências bibliográficas

"A melhor forma de se encontrar é se perder servindo ao próximo"
(Mahatma Gandhi). Foto: Retirada da página da Operation Smile no Facebook

Hoje, na correria pra lá e pra cá pelo Hospital, dei de cara com um garotinho de aproximadamente 1 aninho que sorria com os olhos para mim. Reconheci aquele olhar. Era um dos bebezinhos prematuros - nascido com 20 poucas semanas de idade gestacional e Muitíssimo Baixo Peso - que atendi no CTI neonatal e no Ambulatório Orelhinha. Ele lutou bravamente para sobreviver e voltava ali, hoje, junto da mamãe, para nos presentear com a demonstração daquilo que chamamos de força de vontade para viver. É um aprendizado sem fim rever essas crianças que conheceram o sofrimento tão cedo na vida e superaram! Fica a lição: querer viver é um instinto; não há que se pensar, basta aceitar que é humano a constante busca pelo bem estar.