"Fonoaudiologia é uma arte que merece ser mais amplamente conhecida. Você não pode imaginar as acrobacias que sua língua mecanicamente executa para produzir todos os sons da linguagem”, Jean Dominique Bauby, foi Editor Chefe da Revista ELLE em Paris, após ter um AVE e precisar de tratamento fonoaudiológico.

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quarta-feira, 2 de abril de 2014

O que queremos no Dia Mundial da Conscientização sobre o Autismo



Hoje é dia 02 de abril, Dia Mundial da Consciência sobre o autismo (Autism Awaraness Day). Eu sou uma das que celebram a conquista desta data: lembro de amigos e pacientes autistas com carinho e faço questão de divulgar para as pessoas o significado desta dia. Sabe por quê? É porque sonho com a inclusão e sei que para incluir é necessário saber lidar com o outro. 

O fato é que ninguém nasce sabendo lidar com uma doença ou uma deficiência... mal sabemos lidar com as diferenças na personalidade daquele que amamos, imaginem com as limitações físicas e intelectuais de um desconhecido!? Para saber lidar é preciso estudar, pesquisar, ou trabalhar com isso... é preciso escolher lidar com gente, com doença e com deficiência. Para tanto existe a Medicina, a Fonoaudiologia, a Psicologia, a Psiquiatria. Estou aqui para ensinar a família, os amigos, e a sociedade a lidarem com várias diferenças e doenças, incluindo o autismo.


Muitas são as pessoas de corações abertos para se relacionar com as deficiências e diferenças do outro! Felizmente o mundo está cheio de gente linda! Mas mesmo essas pessoas lindas, as vezes se afastam de uma criança autista, pelo simples fato de não saberem se relacionar com ela. E o fato é que isso piora muito o quadro autista, pois a principal dificuldade dela é interagir com o outro. 


Se ela não pode interagir com você - por uma limitação que lhe foge do controle - e se você não quer interagir porque não sabe lidar, então temos como consequência o isolamento, a marginalização e a exclusão social. E a partir dai, tudo se agrava: para a criança, porque ela tende a se isolar ainda mais; para você, porque fica ainda mais difícil lidar.


Eu só quero que você saiba que a criança autista quer se relacionar com você e ela quer que você aprenda a se relacionar com ela. Então, hoje é dia de te ensinar peculiaridades na forma de viver que são próprias da criança autista. Aqui vão as "10 coisas que toda criança com autismo gostaria que você soubesse"... uma tradução de trechos do livro de Ellen Notbohm. Ela é escritora e colunista americana, mãe de filhos portadores de Autismo e Déficit de Atenção e Hiperatividade. 



Dez coisas que toda criança com autismo gostaria que você soubesse
Tradução livre de Andréa Simon



1) Antes de tudo eu sou uma criança.

Eu tenho Autismo. Eu não sou somente "Autista". O meu autismo é só um aspecto do meu carácter. Não me define como pessoa. Você é uma pessoa com pensamentos, sentimentos e talentos. Ou você é somente gordo, magro, alto, baixo, míope. Talvez estas sejam algumas coisas que eu perceba quando conhecer você, mas isso não é necessariamente o que você é. Sendo um adulto, você tem algum controle de como se auto-define. Se quer excluir uma característica, pode se expressar de maneira diferente. Sendo criança eu ainda estou descobrindo. Nem você ou eu podemos saber do que eu sou capaz. Definir-me somente por uma característica, acaba-se correndo o risco de manter expectativas que serão pequenas para mim. E se eu sinto que você acha que não posso fazer algo, a minha resposta naturalmente será: Para que tentar?



2) A minha percepção sensorial é desordenada.

Interacção sensorial pode ser o aspecto mais difícil para se compreender o autismo. Quer dizer que sentidos ordinários como audição, olfacto, paladar, toque, sensações que passam desapercebidas no seu dia-a-dia podem ser dolorosas para mim. O ambiente em que eu vivo pode ser hostil para mim. Eu posso parecer distraído ou em outro planeta, mas eu só estou tentando me defender. Vou explicar o porquê uma simples ida ao mercado pode ser um inferno para mim: a minha audição pode ser muito sensível. Muitas pessoas podem estar falando ao mesmo tempo, música, anúncios, barulho da caixa registradora, telemóveis tocando, crianças chorando, pessoas tossindo, luzes fluorescentes. O meu cérebro não pode assimilar todas estas informações, provocando em mim uma perda de controlo. O meu olfacto pode ser muito sensível. O peixe que está à venda na peixaria não está fresco; a pessoa que está perto pode não ter tomado banho hoje; o bébé ao lado pode estar com uma fralda suja; o chão pode ter sido limpo com amónia. Eu não consigo separar os cheiros e começo a passar mal. Porque o meu sentido principal é o visual. Então, a visão pode ser o primeiro sentido a ser super-estimulado. A luz fluorescente não é somente muito brilhante, ela pisca e pode fazer um barulho. O quarto parece pulsar e isso machuca os meus olhos. Esta pulsação da luz cobre tudo e distorce o que estou vendo. O espaço parece estar sempre mudando. Eu vejo um brilho na janela, são muitas coisas para que eu consiga me concentrar. O ventilador, as pessoas andando de um lado para o outro... Tudo isso afecta os meus sentidos e agora eu não sei onde o meu corpo está neste espaço.



3) Por favor, lembre de distinguir entre não poder (eu não quero fazer) e eu não posso (eu não consigo fazer) 

Receber e expressar a linguagem e vocabulário pode ser muito difícil para mim.
Não é que eu não escute as frases. É que eu não te compreendo. Quando você me chama do outro lado do quarto, isto é o que eu escuto "BBBFFFZZZZSWERSRTDSRDTYFDYT João". Ao invés disso, venha falar comigo directamente com um vocabulário simples: "João, por favor, coloque o seu livro na estante. Está na hora de almoçar". Isso me diz o que você quer que eu faça e o que vai acontecer depois. Assim é mais fácil para compreender.


4) Eu sou um "pensador concreto". 

O meu pensamento é concreto, não consigo fazer abstracções.
Eu interpreto muito pouco o sentido oculto das palavras. É muito confuso para mim quando você diz "não enche o saco", quando o que você quer dizer é "não me aborreça". Não diga que "isso é moleza, é mamão com açúcar"quando não há nenhum a mamão com açúcar por perto e o que você quer dizer é que isso é algo fácil de fazer. Gírias, piadas, duplas intenções, paráfrases, indirectas, sarcasmo eu não compreendo.



5) Por favor, tenha paciência com o meu vocabulário limitado.

Dizer o que eu preciso é muito difícil para mim, quando não sei as palavras para descrever o que sinto. Posso estar com fome, frustrado, com medo e confuso, mas agora estas palavras estão além da minha capacidade, do que eu possa expressar. Por isso, preste atenção na linguagem do meu corpo (retracção, agitação ou outros sinais de que algo está errado).
Por um outro lado, posso parecer como um pequeno professor ou um artista de cinema dizendo palavras acima da minha capacidade na minha idade. Na verdade, são palavras que eu memorizei do mundo ao meu redor para compensar a minha deficiência na linguagem. Por que eu sei exactamente o que é esperado de mim como resposta quando alguém fala comigo. As palavras difíceis que de vez em quando falo podem vir de livros, TV, ou até mesmo serem palavras de outras pessoas. Isto é chamado de ECOLALIA. Não preciso compreender o contexto das palavras que estou usando. Eu só sei que devo dizer alguma coisa.



6) Eu sou muito orientado visualmente porque a linguagem é muito difícil para mim.

Por favor, mostre-me como fazer alguma coisa ao invés de simplesmente me dizer.

E, por favor, esteja preparado para me mostrar muitas vezes. Repetições consistentes ajudam-me a aprender. Um esquema visual ajuda-me durante o dia-a-dia. Alivia-me do stress de ter que lembrar o que vai acontecer. Ajuda- me a ter uma transição mais fácil entre uma actividade e outra. Ajuda-me a controlar o tempo, as minhas actividades e alcançar as suas expectativas. Eu não vou perder a necessidade de ter um esquema visual por estar crescendo. Mas o meu nível de representação pode mudar. Antes que eu possa ler, preciso de um esquema visual com fotografias ou desenhos simples. Com o meu crescimento, uma combinação de palavras e fotos pode ajudar mais tarde a conhecer as palavras.


7) Por favor, preste atenção e diga o que eu posso fazer ao invés de só dizer o que eu não posso fazer.

Como qualquer outro ser humano não posso aprender em um ambiente onde sempre me sinta inútil, que há algo errado comigo e que preciso de "CONSERTO". Para que tentar fazer alguma coisa nova quando sei que vou ser criticado?

Construtivamente ou não é uma coisa que vou evitar. Procure o meu potencial e você vai encontrar muitos! Terei mais que uma maneira para fazer as coisas.


8) Por favor, me ajude com as interacções sociais.

Pode parecer que não quero brincar com as outras crianças no parque, mas algumas vezes simplesmente não sei como começar uma conversa ou entrar na brincadeira. Se você pode encorajar outras crianças a me convidarem a jogar futebol ou brincar com carrinhos, talvez eu fique muito feliz por ser incluído. Eu sou melhor em brincadeiras que tenham actividades com estrutura começo-meio-fim. Não sei como "LER" expressão facial, linguagem corporal ou emoções de outras pessoas. Agradeço se você me ensinar como devo responder socialmente. Exemplo: Se eu rir quando Sandra cair do escorrega não é que eu ache engraçado. É que eu não sei como agir socialmente. Ensine-me a dizer: "você esta bem?".


9) Tente encontrar o que provoca a minha perda de controlo.

Perda de controlo, "chilique", birra, má-criação, escândalo, como você quiser chamar, eles são mais horríveis para mim do que para você. Eles acontecem porque um ou mais dos meus sentidos foi estimulado ao extremo. Se você conseguir descobrir o que causa a minha perda de controle, isso poderá ser prevenido - ou até evitado. Mantenha um diário de horas, lugares pessoas e actividades. Você encontrar uma sequência pode parecer difícil no começo, mas, com certeza, vai conseguir. Tente lembrar que todo comportamento é uma forma de comunicação. Isso dirá a você o que as minhas palavras não podem dizer: como eu sinto o meu ambiente e o que está acontecendo dentro dele.


10) Se você é um membro da família me ame sem nenhuma condição.

Elimine pensamentos como "Se ele pelo menos pudesse..." ou "Porque ele não pode..." Você não conseguiu atender a todas as expectativas que os seus pais tinham para você e você não gostaria de ser sempre lembrado disso. Eu não escolhi ser autista. Mas lembre-se que isto está acontecendo comigo e não com você. Sem a sua ajuda as minhas hipóteses de alcançar uma vida adulta digna serão pequenas. Com o seu suporte e guia, a possibilidade é maior do que você pensa.
Eu prometo: EU VALHO A PENA.


E, finalmente três palavras mágicas: Paciência, Paciência, Paciência.

Ajuda a ver o meu autismo como uma habilidade diferente e não uma incapacidade. Olhe por cima do que você acha que seja uma limitação e veja o presente que o autismo me deu. Talvez seja verdade que eu não seja bom no contacto olho-no-olho e conversas, mas você notou que eu não minto, roubo em jogos, fofoco com as colegas de classe ou julgo outras pessoas? É verdade que eu não vou ser um Ronaldinho "Fenômeno" do futebol. Mas, com a minha capacidade de prestar atenção e de concentração no que me interessa, eu posso ser o próximo Einstein, Mozart ou Van Gogh (eles também tinham Autismo), uma possível resposta para Alzheimer, o enigma da vida extraterrestre, etc. - O que o futuro tem guardado para crianças autistas como eu, está no próprio futuro. Tudo que eu posso ser não vai acontecer sem você sendo a minha Base.
Pense sobre estas "regras" sociais e se elas não fazem sentido para mim, deixe de lado. Seja o meu protector seja o meu amigo e nós vamos ver ate onde eu posso ir. CONTO COM VOCÊ!!! 

quarta-feira, 25 de abril de 2012

O Universo Autista, por Miguel Gallardo



Aproveitando que ainda estamos no mês de conscientização sobre o Autismo, hoje gostaria de compartilhar com vocês um vídeo emocionante do artista espanhol Miguel Gallardo. Pai de Maria, uma criança portadora deste transtorno, ele retrata no vídeo o universo autista. 


Gallardo recebeu vários prêmios na Europa. Não só pelo vídeo, mas também pela autoria do livro "Maria e Eu", no qual ele descreve uma semana de férias com a filha, apresentando as peculiaridades de uma criança autista e o olhar dos outros para os portadores de autismo. (Leia mais em 'María e Eu', BD sobre autismo, apresentada segunda-feira em Lisboa' ).


Achei o vídeo muito explicativo; por isso, dele me utilizo para  promover a conscientização sobre o Autismo este ano no blog. Seja solidário com a causa, dedicando 5 minutinhos do seu dia para entender sobre este transtorno invasivo do desenvolvimento! Consciência evita o preconceito!


Obrigada!  




terça-feira, 21 de junho de 2011

Bem vinda, Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista!

Estou muito feliz com a notícia sobre a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, instituída oficialmente neste 15 de junho de 2011. Certamente, esta conquista é um mérito dos familiares dessas pessoas, que bravamente lutam por melhores tratamentos e bem organizam movimentos de solidariedade pela causa Autista!

Li a redação oficial do projeto de lei e gostei muito. Ofereço meu blog para divulgar esta política; informação dá o poder necessário para que essas famílias busquem os direitos garantidos pela lei. Para ler, clique aqui.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

E o Cristo abriu os braços para a causa Autismo

Foto retirada do website Globo.com
Que a beleza e o simbolismo religioso da figura do Cristo Redentor iluminado em Azul, em apoio ao Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo (2 de abri), tenham inspirado a sociedade a ser mais solidária e consciente com a causa Autista. Em especial, almejo que esta data sensibilize  as pessoas a promoverem a inclusão social da pessoa portadora de Autismo e das famílias que buscam diariamente o melhor tratamento e esperam ansiosamente a descoberta da cura. A busca destas famílias é diária e envolve, sobretudo, muita fé na ciência, força contra o preconceito, investimento de tempo e dinheiro, e superação pessoal para lidar com o desconhecido. Peço aos meus leitores que demonstrem apoio e conhecimento sobre o autismo, em solidariedade às famílias e aos portadores. Para começar, eliminem atitudes preconceituosas e não façam piadas ou rotulem pessoas como se "autista" fosse um adjetivo e não um quadro clínico. Agradeço de coração, em nome de todas essas famílias!

domingo, 9 de maio de 2010

PECS: Um sistema de comunicação alternativa desenvolvido especialmente para crianças com Autismo

Os sistemas de "Comunicação Suplementar e/ ou Alternativa" (CSA) servem para suplementar a comunicação escrita, gestual ou falada, ou ainda substituí-la por meio de símbolos gráficos, figuras, recursos eletrônicos e/ ou computadorizados de fala, entre outros. Os sistemas podem não somente garantir um modo de comunicação efetivo, como também favorecer o desenvolvimento e uso da linguagem, sendo amplamente utilizados com pacientes que não adquiriram a fala ou a perderam devido algum acidente neurológico.

"The Picture Exchange Communication System" (PECS) é um dos diversos sistemas de CSA. Desenvolvido em 1985 por Lory Frost and Andy Bondy nos Estados Unidos, o programa é destinado às crianças portadoras de transtorno autístico ou quaisquer outros transtornos relacionadas à comunicação e interação social - aquelas crianças que apresentam fala não funcional, ou seja, sabem falar mas não utilizam a fala como forma de comunicação.

O programa PECS segue um protocolo de treinamento baseado nos princípios da linha "Análise do Compotamento Aplicada" - também conhecida com "Terapia ABA", em referência ao termo em inglês Applied Behaviour Annalysis". Seguindo uma metodologia padronizada e relacionada com o típico desenvolvimento da linguagem, o programa utiliza as seguintes estratégias: distinção de comportamentos, reforço, correção do erro e generalização. O primeiro objetivo é ensinar a criança "como" se comunicar e depois apresentar "regras" para tanto. Crianças utilizando PECS aprendem inicialmente a comunicar com apenas uma figura, mas depois aprendem a combiná-las, formando estruturas gramaticais, relações semânticas e funções comunicativas.

A seguir apresento um quadro com as sete diferentes fases do programa PECS, com respectivos objetivos, procedimentos e considerações.

domingo, 31 de janeiro de 2010

Corra, A FAVOR do Autismo



Genaro Gamberdella é uma garoto muito especial que conheci quando morei nos Estados Unidos. Aos dois anos ele foi diagnosticado com Autismo e vem, junto à sua família e tantas outras, confiando na ciência para que o autismo seja mais bem compreendido e tratado.

A família Gamberdella está fazendo uma campanha para conscientização e levantamento de fundos voltados para a pesquisa sobre o Autismo. Para tanto, eles irão correr a Maratona 2010 de Boston (Massachusetts, EUA) e estão sensibilizando amigos e familiares para que façam doações.

Aprecio a iniciativa da família e ofereço o meu Blog para divulgar esta campanha, que pode e deve ser “copiada” por aqueles que se sensibilizam com a causa. Deixo aqui também um apelo para que as pessoas sejam mais conscientes, solidárias e menos preconceituosas. Já escutei muitas vezes colegas dizendo “você está muito autista hoje” só porque eu estava um pouco quieta! Acho este comentário preconceituoso.

“O autismo não é causado por fatores de ordem psicológica. O isolamento a que os autistas se voltam não resulta de qualquer desejo ou vontade consciente, mas ocorre, pelo contrário, na seqüência de alterações neurológicas e bioquímicas que têm lugar no cérebro.” (1)

Aqueles que quiserem contribuir ou saber mais sobre a história e a campanha da família Gamberdella podem acessar o website http://www.firstgiving.com/forgenaro2010. Contem comigo se quiserem informações sobre o autismo, como contribuir, ou fazer uma campanha a favor do Autismo.


Obrigada.
Patrícia Ribeiro



(1) Essa passagem foi retirada do texto “Cura do autismo?” de Maria Rosário Lopes e está disponível no website “Medicina Avançada – Dra. Shirley de Campos” (http://www.drashirleydecampos.com.br/noticias/11464).

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Uma entrevista sobre a intervenção terapêutica nos Estados Unidos com crianças no espectro autista

O Transtorno Invasivo do Desenvolvimento (TDI) refere-se a um espectro de condições psicológicas caracterizado por anormalidades geradas na interação social, comunicação e comportamento. TDI por si só não é considerado um diagnóstico; entretanto, é um elo de classificação comum para Autismo, Síndrome de Asperger, Síndrome de Rett e Transtorno Invasivo do Desenvolvimento-Sem outra especificação (TDI-SOP). Estes, sim, são diagnósticos e têm como características em comum debilidades no processo de socialização e no uso da função linguística, assim como apresentação de comportamentos estereotipados.

A compreensão do TDI, especialmente das Desordens do Espectro Autista (DEA) tem sido meu objeto de investigação principal. Muito tenho estudado e visto sobre as alternativas de tratamento e a intervenção da Fonoaudiologia sobre os casos caracterizados dentro das DEA. Em uma temporada nos Estados Unidos, aprendi sobre a intervenção baseada na “Análise Comportamental Aplicada” (ABA)(1), fundamentada na idéia de que o comportamento pode ser moldado e controlado. O método ABA tem sido utilizado em larga escala como metodologia de estimulação e tratamento individual de casos diagnosticados dentro do TID, dos quais representam, na estimativa atual, 1:150 das crianças americanas.

Para compartilhar um pouco do que aprendi nos Estados Unidos sobre intervenção terapêutica com crianças diagnosticadas sob DEA, apresento abaixo a minha entrevista com Nicole Narlock, diretora assistente da Pacific Autism Learning Services, uma agência de serviços terapêuticos, baseados no método ABA, para crianças diagnosticadas neste espectro.


1. Como você ajuda crianças autistas?

“Eu sou diretora assistente de uma organização chamada Pacific Autism Learning Services (PALS). Nós oferecemos intervenção precoce, terapia ABA de julgamento discreto, para jovens crianças com autismo. Nossos serviços são oferecidos em ambiente domiciliar e tem foco na construção da linguagem e das habilidades comunicativas, cognitivas e acadêmicas, da independência pessoal, e da habilidade de brincar e socializar. Nós também acompanhamos nossas crianças em idade pré-escolar no ambiente escolar, facilitamos a socialização entre os colegas e oferecemos suporte quanto ao comportamento. Como diretora, eu assisto 11 crianças, acompanhando estes casos por aproximadamente 1,5 hora/ semana através de encontros com minha equipe.”

2. Qual é a sua formação?

“Eu me formei na Santa Clara University, com um título em Estudos Liberais. Atualmente, estou em processo de finalização do meu título de mestrado em Educação Especial – Deficiência Leve a Moderada pela San Francisco State University (vou obtê-lo em Janeiro de 09). Além disso, estou finalizando uma especialização em Autismo através do programa Project Mosaic sobre a orientação de Pamela Wolfberg, Ph.D.”

3. Por que você se interessou por essa área?

“Depois de completar o meu bacharelado, eu estava inicialmente interessada em me tornar uma professora da educação especial. Depois que começei a buscar o meu mestrado, encontrei um trabalho de meio turno em um jornal como uma terapeuta ABA iniciante. Eu me apaixonei por este trabalho e já tem 9 anos que continuo neste campo.”

4. Como você conseguiu este trabalho? Você já tinha trabalhado com crianças autistas anteriormente?

“Como disse anteriormente, depois de encontrar o emprego no jornal, me candidatei para começar a trabalhar como uma terapeuta ABA iniciante. Desde então tenho trabalhado em duas diferentes empresas e fui promovida como terapeuta senior, supervisora clínica, e agora sou diretora do programa. Eu não tinha nenhuma experiencia com autismo antes de começar nesta área.”

5. Como uma criança autista precisa e pode ser assitida? Quais são as necessidades dela?

“Crianças com autismo tipicamente apresentam deficit em quase todas as áreas de funcionalidade. Estas incluem a comunicação, independência pessoal e adaptação, deficit cognitivo, brincar e imaginação, atenção articulada, deficits sensoriais, e habilidades acadêmicas. Qualquer intervenção precisa ter essas áreas como foco. O autismo é, entretanto, um espectro de alterações, o que significa que os sintomas variam em diferentes níveis de severidade de acordo com peculiaridades individuais. Crianças com autismo frequentemente apresentam comportamentos alterados, incluindo estereotipias, auto-agressão ou agressão contra outros, e desobediência. Muitos também se mantém em comportamentos de auto-estimulação.”

6. O que um profissional especializado pode fazer por uma criança autista que os pais desta não podem fazer por ela?

“Pais sempre conhecem os filhos melhor do que ninguém; entretanto, profissionais especializados podem certamente acrescentar com a experiência e conhecimento deles. Dependendo da formação, assim espero, podem oferecer serviços muito úteis não somente para as crianças, mas também para os pais destas. Profissionais experientes devem ajudar a ensinar aos pais como difundir as habilidades adquiridas pela criança e oferecer caminhos de sucesso para favorecer na interação com a criança.”

7. Quais são as dificuldades encontradas na relação entre pais e profissionais?

“Como em qualquer relação profissional, às vezes pais e profissionais também enxergam de maneira diferente uma situação. Durante minha carreira, vivi dificuldades com pais que negam ou que apresentam dificuldade para lidar com o diagnóstico da criança. Isso pode se manifestar através do não seguimento de recomendações dadas ou da acusação de que a falta de progresso no tratamento da criança é culpa dos profissionais. Ocasionalmente, pais ficam confusos, divididos entre recomendações conflitantes entre diferentes prestadores de serviço e enfrentam dificuldade confiando em um certo profissional. Outras vezes, já fui confrontada por pais que não seguiram as minhas recomendações e encararam nossos serviços como baby-sitting. Geralmente, tenho me tornado amiga da maioria dos pais com os quais eu trabalhei e, acredito, as dificuldades enfrentadas foram mínimas.”

8. O que você acha sobre a incidência de autismo na California? E em relação a esta incidência nos Estados Unidos?

“Desde que desconhecemos a causa do autismo, eu certamente não posso fazer nenhuma conclusão sobre o drástico aumento desta incidência no nosso país (EUA). Fatores que eu acredito estarem relacionados são o aumento da consciência geral das pessoas, melhores métodos diagnósticos, e detecção precoce. Da mesma forma, a população de autistas tem continuado a crescer. Crianças com a forma hiperfuncional de autismo, como nos casos da Síndrome de Asperger, têm sido diagnosticadas de maneira mais clara e precoce, expandido as formas de autismo e aumentando as estatísticas. Também tem se tornado mais aceito o fato de que existem fatores ambientais conectados com o aumento do autismo, mas minha formação ainda não me direcionou na investigação destes fatores e não posso relacioná-los com minha experiência.”

9. Existe pessoal suficiente para dar assistência às crianças autistas no mercado? O que você pensa sobre o mercado profissional nesta área?

“Eu penso que o aumento na incidência de autismo tem levado a excitação de novas terapias e intervenções, deste modo também criando potencialmente mais empregos. Eu acredito que qualquer indivíduo dedicado, que queira ajudar crianças com autismo, poderia encontrar um lugar neste mercado. Este é um momento interessante na área, no qual autismo ainda continua sendo um mistério em diversos pontos de vista. Até que a cura ou causa seja identificada, eu penso que o mercado vai continuar a crescer e a expandir, à medida da necessidade. Na minha própria posição de trabalho e na minha especialidade parece termos, atualmente, pessoal suficiente para ajudar crianças com autismo. Nos últimos anos, agências de ABA na região têm se multiplicado de maneira grandiosa e atualmente o mercado tem se tornado de certa forma competitivo. Enquanto antigamente nós costumávamos ter longas listas de espera de famílias tentando entrar no nosso programa, mais recentemente este não tem sido mais o caso. Novamente, eu penso que isso acontece tanto por causa do aumento da oferta de agências como também porque os pais estão buscando diferentes tipos de terapias, além de exclusivamente a nossa.”

10. Você pensa que o pessoal está preparado para dar assistência às crianças autistas? Como eles podem se preparar? Quais devem ser os pré-requisitos educacionais e profissionais?

“Dependendo da expêriencia e nível de formação do profissional, eu penso que muitas pessoas chegam com boa preparação para trabalharem com crianças autistas. Infelizmente, formação específica em autismo é ainda relativamente uma novidade. Programas como os que estou envolvida na San Francisco University ainda são raros. Com a crescente melhora na consciência das pessoas, programas na área de educação especial estão, no entanto, começando a incluir mais fundamentação e assuntos de interesse relacionados ao autismo, o que é certamente um passo na direção correta. Se alguém está interessado em trabalho na área de autismo, eu recomendaria que ele primeiro pesquisasse sobre a variedade de abordagens disponíveis e veja quais são os programas mais interessantes numa perspectiva pessoal. Depois, eu veria as ofertas de emprego disponíveis naquela área em particular e começar “enfiando o meu pé” por aí! Na minha opinião, experiência é a melhor professora. Da mesma forma, os programas em educação especial e/ ou autismo podem oferecer uma boa base de conhecimento também.”

11. Quais características pessoais são essenciais num profissional que lida com crianças autistas?

“Primeiramente e essencialmente, eu penso que qualquer profissional que tenha dedicação pode ir longe, lidando com crianças autistas. Qualquer um que tenha sensibilidade e dedicação pode realmente ajudar e, acredito, pode, desta maneira, fazer uma carreira de sucesso nessa área. Além disso, acho que a pessoa tem que ter mente aberta, ser paciente, ter compaixão, e empatia pelas dificuldades enfrentadas por essas crianças e pelas famílias dela. Sempre respeitá-los é essencial ao meu ver.”

12. Qual conselho você daria às pessoas interessadas em trabalhar com crianças autistas?

“Eu penso que eu gostaria que eles soubessem quão maravilhosas as crianças com autismo são. Elas são todas incrivelmente únicas e maravilhosas de se trabalhar. Eu também gostaria que eles soubessem, entretanto, que a experiência pode ser difícil. Agressão é comum, e as vezes é difícil lidar com a auto-agressão. Eu gostaria de encorajá-los a ter uma mente aberta e tirar máximo proveito desta experiência.”



(1) ABA refere-se à Applied Behaviour Analysis, termo utilizado no inglês