09 de Dezembro, Dia do Fonoaudiólogo. Como bem colocou Jean Dominique Bauby em "O Escafândro e a Borboleta", "a Fonoaudiologia é uma arte que merecia ser mais amplamente conhecida". Mas, ela necessita também ser bem mais valorizada. Tem gente que nem sabe dizer ou escrever a palavra Fo-no-au-di-o-lo-gia... Quantas vezes não recebi encaminhamentos de colegas endereçados ao "Fonodiólogo" ou "Fonadiólogo"?
Eu mesma era uma das quem não sabia sequer o que fazia o Fonoaudiólogo quando marquei no vestibular a opção que hoje me traz aqui. Quem sabe o que quer fazer da vida aos 16 anos? Poucos - e eu não era uma dessas. Só sabia que queria cuidar de gente. Eu odiava química (e sangue); Medicina não era para mim. Então, precisei dos conselhos da diretora da escola no programa de orientação vocacional. Ela sabia que eu tinha jeito com crianças e, naquela época, a ciência da reabilitação estava em alta. Eu sabia também que não queria fazer Fisioterapia porque essa era a opção da maioria e eu queria, como sempre, ser diferente! Era fundamental também que a universidade escolhida fosse em outra cidade, no mínimo na capital do estado! Dei uma olhada na grade curricular do curso sugerido pela diretora pedagógica e me atraíram as palavras Voz, Linguagem, Motricidade Orofacial, Linguística... Isso foi o suficiente para marcar o X e seguir.
No último ano de curso, eu tinha, assim como todos colegas, muito medo do que iria encontrar fora da Universidade. Ora! A reabilitação estava na moda na época em que eu entrei na faculdade; depois de quatro anos, haviam muitos (muitos mais, mesmo!) profissionais no mercado. Sendo a mais nova da turma, com 20 anos, eu não estava pronta para lidar com isso. Acabei trancando a faculdade. Precisei de um tempo, no qual encontrei pelo caminho uma criança muito especial. Ela me fez lembrar o quão maravilhoso e gratificante é a oportunidade de criar meios de comunicação para expressar necessidades físicas e, principalmente, emoções. Neste mesmo tempo, estive no exterior e conheci uma Fonoaudiologia diferente: muito valorizada no mercado de trabalho e fortemente baseada em evidências científicas, o que me levou à certeza de que eu poderia alcançar o sucesso com a minha profissão.
O sucesso ainda não chegou e foi duro formar. Percebi que haviam não somente muitos profissionais disponíveis no mercado, como também muitos espaços carentes da intervenção do Fonoaudiólogo e de portas fechadas para nos receber. Percebi que seria (e ainda é) muito necessário fazer um trabalho massante de divulgação da profissão, ainda tão recente no Brasil, e apresentar evidências da nossa eficiência. Para tanto, percebi a necessidade da união da classe, o que eu descobri ser um outro grande desafio, tamanha a competitividade por uma boa colocação no mercado atual! Também percebi que eu teria que investir em muito mais estudo, para ser capaz de apresentar tais evidências científicas e conquistar uma das poucas vagas no mercado que atualmente oferecem um salário digno do meu ofício.
Não desanimei. Mirei nos fortes fonoaudiólogos ao meu redor, nos que estiveram nesta busca antes de mim e que alcançaram o sucesso que eu gostaria de ter. Faço questão de citar pessoas que muito me inspiraram: as professoras Ana Tereza, Cláudia Barros, Fernanda Abalen, Camila Di Nino e Carla Menezes, além dos fonoaudiólogos Raimundo Neto e Fabrícia Araújo. Eles enfrentaram um mercado menos competitivo quando iniciaram a carreira, mas precisaram conquistar uma sociedade muito menos esclarecida sobre a ciência fonoaudiológica e um modelo de intervenção tradicionalmente médico centrado, e não multiprofissional. Também me apeguei às experiências de sucesso apresentada nos congressos e cogitei até seguir a carreira no exterior! Cheguei, portanto, à conclusão de que o sucesso da Fonoaudiologia é para os fortes fonoaudiólogos que conquistam uma sociedade, buscam evidências e até abrem mão de suas origens para seguir carreira mundo afora.
Enquanto o sucesso não vem, o que tenho hoje é o amor pelo meu trabalho e a gratidão dos pacientes pela minha intervenção e carinho. Isso me dá muita disposição e a força necessária para tentar conquistar uma sociedade ainda pouco esclarecida. Este blog, por exemplo, é uma estratégia de divulgação da Fonoaudiologia. Para conquistar um mercado de trabalho injusto, entretanto, é necessário unir forças de classe e dos demais profissionais da saúde. É decepcionante e indignante a desvalorização dos profissionais da saúde, em geral, no nosso país. O mesmo país que se orgulha de possuir um Sistema ÚNICO de Saúde, que oferece atendimento - integral, universal, igual - e gratuito à população, não valoriza os profissionais que dele fazem parte e lutam bravamente para fazê-lo funcionar com mínimos recursos.
O ex-presidente Lula participou de uma campanha de sensibilização quanto aos cuidados da voz e demonstrou gratidão pelo atendimento recebido pelo fonoaudiólogo durante o tratamento de seu câncer de laringe, numa tentativa de valorizar a nossa profissão. Isso foi muito pouco e a classe necessita ser forte para cobrar ações. Como pode, por exemplo, o presidente do país permitir a publicação de editais de concurso público oferecendo vagas para um Fonoaudiólogo receber R$ 600 para trabalhar uma jornada de 20 horas semanais? Isso não chega nem perto da metade do investimento mensal que destinei aos meus estudos. Como podem então os gastos com estudos serem tão caros? Eu poderia prosseguir a minha indignação, com muitos outros questionamentos e exemplos de desrespeito com a nossa profissão e todo o investimento nela feito por nós. Há muito o que se falar. Mas quero apenas convidar os colegas fonoaudiólogos que almejam o sucesso a refletirem sobre a necessidade de unir forças para alcançar o sucesso de toda uma classe.
Os Fonoaudiólogos de sucesso que conhecemos foram muito fortes. Nós que estamos ainda buscando este sucesso, precisamos ser ainda mais.